Sempre acreditei que a vida se revela nas bordas, no que não está no roteiro, no que escapa do controle, nos encontros que acontecem quando estou distraída tentando manter tudo em ordem. A verdade é que eu detesto perder o controle. Gosto de saber onde piso, planejar, prever, entender. Mas, aos poucos, a vida tem me mostrado que as melhores coisas não pedem permissão. Elas simplesmente acontecem. E, quando paro de resistir, percebo: é assim que a vida vive — no imprevisto, no movimento, no que escapa.
Eu acredito que a vida me leva exatamente para onde preciso estar, mesmo quando não entendo o porquê — ou até quando reclamo no caminho. Às vezes eu só vou, só sigo, só aceito. E, quando percebo, tem alguém ali. Um olhar, um gesto, uma conversa aparentemente banal que vira semente. Um nome que se repete até que eu preste atenção.
Já cruzei com pessoas que me ensinaram mais em uma conversa do que livros inteiros. Já ouvi frases simples que ficaram comigo por anos. E já vivi relações breves, mas tão intensas, que me mudaram para sempre. Não acredito em coincidências. Acredito em propósito. Em tempo certo. Em encontros que não foram planejados por nós, mas que se alinharam para acontecer.
Algumas pessoas chegam e revelam um novo caminho. Outras apenas confirmam que estamos no caminho certo. Há também quem chegue para testar nossos limites, desafiar nossas certezas, provocar uma mudança que, sozinhas, talvez não teríamos coragem de fazer. E eu agradeço por todos eles, mesmo pelos que deixaram dor, dúvidas ou distâncias. Eles também cumpriram um papel.
Com o tempo, aprendi a reconhecer a delicadeza de um encontro verdadeiro. Não é sobre duração, intensidade ou promessas, é sobre o que muda em mim depois, sobre aquilo que, uma vez acessado, não volta a ser como era. Algumas pessoas se tornaram parte da minha história quase sem fazer esforço, chegaram com naturalidade, como se soubessem o caminho, trouxeram alívio, coragem, escuta, e ficaram. Outras me ensinaram com ausência, com limites, com a despedida. Nem por isso foram menos importantes. Há vínculos que só se revelam quando terminam. E há pessoas que, por mais breves que tenham sido, deixaram uma lembrança que insiste em permanecer.
Sou feita desses encontros. Dos que me mostraram caminhos novos e dos que me devolveram àquilo que eu já sabia, mas tinha esquecido. Sou também os silêncios que compartilhei, os abraços que guardei, os olhares que disseram o que as palavras não alcançavam. Sou feita de encontros e de tudo que eles deixam em mim.
Ainda tenho dificuldade em aceitar que não controlo tudo, mas cada encontro inesperado me lembra que não deveria mesmo controlar. Porque é justamente no que não planejo que a vida se faz mais inteira, mais real, mais minha.
E, no meio disso tudo, teve o maior encontro que já vivi: o de mim comigo mesma. Nem sempre foi bonito. Já me encontrei em lugares escuros, com versões minhas que preferia ignorar. Já fugi de mim, me silenciei, me sabotei. Mas hoje eu entendo que até esses encontros foram necessários, porque é no encontro com a nossa verdade que a vida começa a fazer sentido.
Tem encontros que eu não sabia que precisava. Tem encontros que ainda me doem. E tem outros que me curam, todos os dias. Encontro é isso: dois mundos se tocando, às vezes com leveza, às vezes com tempestade, mas sempre com propósito. Porque a vida não desperdiça cruzamentos.
Hoje olho para minha história e vejo que ela foi sendo escrita assim: por encontros — com pessoas, com ideias, com experiências, e, acima de tudo, por reencontros comigo mesma — aqueles que só acontecem quando a vida nos coloca diante de algo (ou alguém) que nos obriga a nos ver com mais verdade.
Se você já cruzou meu caminho, de algum modo, você me tocou. E se ainda vai cruzar, que seja com sentido. Estou aberta ao que a vida ainda tem a me apresentar. Porque sigo acreditando: os encontros certos sempre chegam. E eu sigo pronta para ser atravessada — com mais cuidado, mais presença, mais fé.
Com tudo que sou,
Luana.